Martin Brofman
1940 - 2014

"Faz aquilo que queres mesmo fazer, não faças aquilo que não queres realmente fazer e confia na tua viagem."

 

Em 1975 eu tinha cancro terminal e disseram-me que tinha apenas um ou dois meses de vida. Tinha um tumor na minha medula espinhal - no pescoço - que ao crescer pressionava a corda espinhal contra o interior do canal vertebral. O meu braço direito estava paralisado e as minhas pernas espásticas. Tinha feito uma operação para remover o tumor, sem sucesso, e disseram-me que por várias razões a quimioterapia e a radioterapia não resultariam. Os médicos avisaram-me que o fim poderia chegar rapidamente, a qualquer momento, se tossisse ou espirrasse.

Encarei-me com uma realidade em que cada dia era possivelmente o meu último, cada hora a minha última hora. Sabia uma coisa de certeza – fosse qual fosse o tempo que me restasse, eu queria ser feliz, sendo apenas eu próprio.

Por isso, dietas especiais pouco atractivas não me faziam sentido nenhum, apesar de dizerem que podiam ajudar. Cada refeição era possivelmente a minha última e eu queria comer aquilo que realmente gostava. Tinha que ser verdadeiro para mim, ser verdadeiro em tudo o que fizesse.

Os meus valores mudaram. Vivia no momento presente e tudo o que fazia era por aquilo, porque o queria realmente fazer. Algumas coisas que pareciam importantes antes, subitamente já não eram. A única coisa importante era ser feliz e para mim isso significava fazer o que me fazia feliz, e não fazer nada que me fizesse infeliz. Dois meses depois, eu ainda estava vivo; acabara-se o meu tempo, mas ainda estava vivo! Um mês depois já estava para além do tempo, mas ainda vivo. Perguntei-me quanto tempo poderia durar. Estava a cinco meses da passagem de ano e decidi que, se por um milagre ainda cá estivesse, celebraria com umas férias numa ilha tropical. O que eu não sabia então, era como essas férias salvariam a minha vida.

Cinco meses depois estava a celebrar a passagem de ano em Martinique, e encontrei-me a ter uma conversa que me fez expandir a mente, com um homem que estava lá a ensinar meditação Zen. Ele disse-me: “O cancro começa na tua mente, e é lá que podes ir para te livrares dele.” Era como se alguém tivesse acendido uma lâmpada – era tão claro. Eu sabia o que ele queria dizer e vi como o cancro era uma metáfora de coisas reprimidas e não expressas. Eu vi como o meu estilo de vida anterior e a minha maneira de ser, me levaram a matar-me de muitas formas. Então aí apercebi-me que se mudasse a minha maneira de ser, de alguma forma poderia libertar os sintomas. Podia usar a minha mente como uma ferramenta para mudar a minha maneira de ser e o meu corpo. Pela primeira vez desde que me foi dado aquele diagnóstico, pude considerar a possibilidade de dar a volta à minha condição e livrar-me do cancro. Podia salvar a minha vida!

Semanas depois assisti a uma palestra do Método Silva, que ensina as pessoas a usarem a sua mente como uma ferramenta. Era apresentada a ideia que as nossas percepções criam a nossa realidade, e como escolhemos as nossas percepções, podemos escolher mudar qualquer aspecto da nossa realidade. A minha consciência era um efeito de programação; do mesmo modo que um computador produz resultados baseado no modo como foi programado. Eu podia reprogramar a minha consciência.

A percepção era que eu estava com uma doença terminal, então eu tinha que reprogramar a minha consciência para criar a percepção que eu estava bem. Eu não estava preparado para uma mudança tão súbita. Durante um tempo considerável eu tinha-me percebido como um ser em estado de deterioração, cada vez mais perto da morte. Apercebi-me que era muito mais fácil criar a percepção que eu estava a ficar cada vez melhor, até estar finalmente bem. Eu sabia que a reviravolta podia acontecer a qualquer momento. Era uma questão de ligar um interruptor na minha mente e insistir em saber que já estava ligado.

Decidi que se o momento da mudança podia ser qualquer momento, que fosse agora.

A mudança na minha consciência foi imediata, eu senti-a, e então soube que estava a melhorar. Também estava ciente da importância de manter a integridade da minha decisão. A partir desse momento, soube que as minhas percepções tinham que reforçar a ideia que eu estava cada vez melhor, até eu poder eventualmente estar bem. Como comia o que queria, disse a mim próprio que era exactamente o que o meu corpo precisava e estava a pedir, para acelerar o processo de cura. Antes, sensações físicas parecidas com choques eléctricos pelo meu corpo, tinham reforçado a ideia que o tumor estava a crescer. Esses choques ainda vinham, mas agora escolhera percebê-los como prova de que o tumor estava a diminuir. A minha mente procurava cada vez mais formas de saber que a melhoria estava a acontecer.

Eu sabia que tinha que me afastar das pessoas que ainda insistiam em ver-me como terminalmente doente, não por falta de amor, mas antes para manter a minha atitude positiva face ao processo de cura. Tinha que estar com pessoas que me quisessem encorajar nesta tarefa aparentemente impossível, a que me tinha proposto. Quando alguém me perguntava como estava, eu insistia em responder “Cada vez melhor, obrigado”.

Procurei técnicas de programação mental e aprendi que se estivesse num estado relaxado e falasse positivamente comigo durante 15 minutos, três vezes por dia, em 66 dias podia-me fazer acreditar em qualquer coisa. E o que acreditasse ser verdade, seria verdade.

Eu sabia que era vital manter a programação positiva, e que relaxar a mente e falar positivamente comigo durante 15 minutos, três vezes por dia, era parte do processo de programação com o qual eu não deveria de modo nenhum interferir. Surgiam tentações para não fazer os relaxamentos, e então lembrava-me a mim próprio que estava em risco a minha vida. Então qualquer tentação, era algo que estava entre mim e a minha vida e tinha que a afastar, para poder viver.

Assim parece tudo muito simples, mas nem sempre foi fácil. Às vezes – especialmente no início – era muito difícil. Às vezes os meus pensamentos ou palavras apercebiam-se de outras coisas para além da ideia de que estava a melhorar. Nessas alturas tinha que ser honesto comigo e aperceber-me que “tinha estragado tudo”. Então recomeçava, dizendo-me que tinha sido um treino e que o verdadeiro momento da mudança era agora.

Tornou-se mais fácil. Ao princípio conseguia-me manter positivo apenas durante horas, depois um dia, depois dois dias, e depois solidificou. O programa estava a funcionar.
Ocasionalmente aparecia a minha voz de dúvida, mas eu sabia que não era verdadeira. A minha voz interior encorajadora tornou-se a minha guia, levando-me de volta a uma saúde estável, permitindo-me manter com o único objectivo de saber que estavam a acontecer mudanças positivas. Quando não sentia um sintoma, dizia-me que talvez nunca mais voltasse a senti-lo. E se o voltasse a sentir, dizia-me que o processo ainda não estava completo, mas sabia que estava a sentir o sintoma cada vez menos, e menos severamente do que antes. Tudo estava a correr bem.

Eu tinha que saber que estavam a acontecer mudanças positivas, mesmo que nem sempre fossem evidentes. Dizia-me que possivelmente estavam mesmo na soleira das minhas percepções, e então antecipava ansiosamente provas que o justificassem. Conseguia encontrar sempre algo positivo e assegurar-me de que não era tudo imaginação. Era muito encorajado pelas minhas filhas, a Jacki e a Heather. Na altura a Heather tinha apenas quatro anos e sabia que o amor cura, então dava-me frequentemente beijos mágicos de cura – todas as manhãs e todas as noites. Também sentia que a Jacki de seis anos acreditava em mim e na minha capacidade para, de algum modo, ultrapassar a crise. Ela não aceitava outra possibilidade. Podia ver sempre a ligação dela comigo, nos seus olhos. Nos meus períodos de relaxamento, visualizava o tumor e imaginava uma camada de células cancerígenas a morrerem e a saírem através do sistema eliminatório do meu corpo. Eu sabia que a mudança estava a acontecer, mesmo que não fosse óbvio ou perceptível. Eu insisti em saber que isto era verdade.

Eu sabia que o cancro representava algo reprimido e não expresso. Com o tumor localizado mesmo no meu chakra (centro energético) da garganta, também sabia que isto significava reprimir a expressão do meu Ser. Como não tinha bem a certeza do que isto significava, decidi que era imperativo exprimir tudo: cada pensamento e cada sentimento. O que fosse que estivesse na minha consciência e quisesse sair, eu expressava-o, sabendo que isso era vital para a minha saúde. Antes, mantia a percepção de que exprimir levava à discórdia, mas agora eu via como as pessoas à minha volta apreciavam o que expressava e comunicava, e como isso resultava em harmonia. Outra mudança de percepção!

Antes, tinha a crença que se expressasse o que realmente queria, algo mau aconteceria. Tive que reprogramar isso para a crença que se expressasse o que realmente queria, algo maravilhoso aconteceria. Fiz essa decisão e assim foi.
Dei por mim a ter cada vez menos coisas em comum com os meus velhos amigos. Era como se tivéssemos partilhado uma frequência vibracional comum, digamos 547 ciclos (o que quer que isso queira dizer), e subitamente encontrava-me a 872 ciclos e com poucas coisas a dizer às pessoas a 547 ciclos. Tinha que encontrar novos amigos que também estivessem a 872 ciclos, para ter alguém com quem falar.

Vi-me atraído para uma multidão a 872, e eles para mim, como se me tivesse tornado selectivamente magnético. Libertavam-se certos elementos da minha realidade que já não estavam de acordo com o novo Ser em que eu me estava a tornar. Lá no fundo, eu sabia que o processo era inevitável e que não deveriam haver interferências. Desenvolvi um sentido de compaixão e compreensão e sabia que a minha vida dependia de libertar todos os elementos que não estivessem de acordo com a minha nova vibração. O processo era simples, embora nem sempre fácil.

Começava cada dia como um processo de auto-descoberta, sem uma noção pré-concebida de quem eu era, mas com vontade de descobrir o eu emergente. Havia um sentido de deleite a cada nova descoberta.

Imaginava muitas vezes a cena no consultório do médico, depois de concluir o trabalho em mim próprio. Eu via-o a examinar-me e a olhar intrigado porque não encontrava nenhum tumor. Imaginava-o perplexo e a dizer “Talvez nos tenhamos enganado”. Passei esta cena na minha mente todos os dias, durante os meus períodos de relaxamento.

Cerca de dois meses depois fui examinado exactamente pelo mesmo médico que me tinha dado como doente terminal. Examinou-me e não encontrou nada. E adivinhem o que ele disse? “Talvez nos tenhamos enganado”. Ri-me durante todo o caminho para casa.

Um efeito secundário maravilhoso e inesperado do meu processo de cura, foi que deixei de precisar dos óculos que tinha usado durante vinte anos. Eu era míope e astigmático, mas a minha visão mudou e a minha vista foi dada como ‘normal’.

Tinha transformado a minha maneira de ser. O meu estilo de vida tinha mudado drasticamente. O trabalho que faço agora como curador e instrutor é significativo para mim, importante para os outros, e um serviço para a humanidade. Sinto-me ‘elevado’ quando curo e ensino e sei que estou a fazer o trabalho da minha vida.

O processo de transformação é uma parte integral do processo de cura, quer estejas a curar a visão, a libertar-te de uma doença séria, ou se existir um desequilíbrio mental ou emocional que ainda não atingiu o nível físico.

Após a minha cura eu via o mundo de uma maneira bem diferente, de modo figurativo e literal. A minha visão exterior tinha-se transformado juntamente com a minha visão interior. Curioso com este ‘efeito secundário’ da minha cura, decidi explorar o que outros estavam a fazer no campo da melhoria da visão.

Li todos os livros que consegui encontrar sobre o assunto, não porque precisasse de saber ‘como o fazer’, mas antes para descobrir ‘como o fizera’. Encontrei oito livros, e sete deles referiam-se ao oitavo, que era Melhor Visão Sem Óculos, do Dr. William Bates. Ele era o pioneiro neste campo e as suas ideias tinham assustado a comunidade médica convencional dos anos de 1920.

O Dr. Bates apresentava muitas ideias notáveis, mas o estilo do seu livro era demasiado técnico para muitas pessoas, então outros – como a Margaret Darst Corbett e o Aldous Huxley – escreveram outros livros, simplificando as suas ideias para o público geral.

Parece que o Dr. Charles Kelley do Radix Institute na Califórnia foi o primeiro a acrescentar novas ideias, relacionadas com a correlação de tipos específicos de personalidade com tipos específicos de danos visuais. Mais recentemente o Dr. Richard Kavner, um optometrista comportamental, acrescentou informação nova acerca de correlações cérebro/mente com as quais ele tinha alcançado um sucesso notável, através do seu trabalho com crianças.

O factor constante em todas estas áreas de melhoria da visão, era o processo de transformação pessoal – tal como na minha experiência pessoal. Com o discernimento que ganhei ao ver o trabalho de todos os que mencionei, pude construir sobre as suas ideias, usando a minha experiência pessoal para mais discernimentos.

Comecei a falar com as pessoas acerca destas ideias e a ajudá-las a explorarem as ligações entre os seus problemas de visão e as suas maneiras de ser. Após algum tempo, as pessoas com quem tinha falado davam-me os seus óculos e diziam-me que já não precisavam deles.

…Comecei a ensinar aos outros as ferramentas de auto-cura que tinha usado, partilhando a compreensão que tinha ganho durante o meu próprio processo.

Algumas pessoas que vieram ter comigo, pediram-me para as curar. Ao princípio estava relutante e sentia que cada um de nós tem o poder e a capacidade de se curar a si próprio. No entanto, para algumas pessoas era difícil aceitarem isso, ou não sabiam como gerar para elas próprias o grau necessário de clareza e objectividade para o processo. Elas acreditavam mais na minha capacidade para as curar, do que na sua capacidade para se curarem. Não importava o quanto eu insistisse que elas se podiam auto-curar, elas mantinham a percepção de que devia ser eu a fazê-lo. Se eu recusasse, elas iam-se embora sem estarem curadas e eu não me sentia bem com isso.

Eu pensei que se estivesse a escrever o guião deste cenário, podia ter feito um trabalho melhor, vendo um final em que elas estavam curadas quando se iam embora, então concordei em participar no papel de curador nos seus processos.

À medida que trabalhava com mais pessoas, podia ver cada vez melhor a relação entre o que se passava nos seus corpos e nas suas consciências. Gradualmente desenvolvi um modelo que parecia conter todas as ideias que tinha explorado, e que também reflectia a minha experiência, assim como o que tinha visto nas curas em que tinha participado. O modelo desenvolveu-se num sistema de cura que decidi chamar o Sistema do Corpo Espelho, para representar a ideia de que o nosso corpo é um espelho da nossa vida.
A sua partida, testemunho da sua esposa Annick Brofman...
A partida do Martin é uma história em várias partes, peças diferentes de um puzzle.
É só depois de se juntar todas as peças que tudo faz sentido.

O Martin partiu depois de um cancro da bexiga. De acordo com a nossa filosofia e ensinamento, tudo começa na consciência e cancro representa algo reprimido, algo que não foi dito, algo mantido no interior. A bexiga está ligada ao Chacra Raíz, onde as tensões são experimentadas como medo, insegurança. Tensões na consciência acerca de dinheiro, trabalho, casa.

Com o cancro, a pessoa tomou a decisão de morrer. Ou ela está muito infeliz por causa de uma situação, ou chegou a sua hora de partir, ela já realizou tudo o que veio cá fazer.

Ambas as coisas são verdadeiras para o Martin.
As Peças do Puzzle
O Nível Físico
A casa:

O Martin e eu fomos sempre muito bons a encontrar o apartamento perfeito, juntos e separados, antes de nos conhecermos. Sempre vivemos nos nossos lugares de sonho.

O nosso último apartamento em Copenhaga, foi onde o nosso filho, Edouard, nasceu. Nós fomos aí muito felizes durante 10 anos, mas não no décimo primeiro ano. Nós procurámos outro lugar durante um ano, mas sem sucesso. Tudo nos empurrava para sairmos da Dinamarca, e todas as mensagens apontavam para o Mónaco como novo destino, e as mensagens eram muito claras. Nós tivemos o sentimento de estarmos a ser "enviados" para o Mónaco. Eu na altura pensei que era para nos aproximar dos meus pais que estão a ficar mais velhos e que ficaram encantados com a nossa proximidade.

Foi uma surpresa quando o Mónaco se recusou a ceder-nos o direito de residência e nos deu 30 dias para sair. Podem imaginar o choque. Nós tínhamos deixado tudo, trouxemos o Edouard nesta aventura, ele tinha sido aceite no Colégio Público do Mónaco, porque nós lhes tínhamos dado o recibo do pedido de residência. Foi o primeiro choque enorme para o Martin, e para mim também. Contudo, pela força da nossa experiência, nós sabíamos que isto estava a acontecer por uma boa razão. Nós pudemos ficar no Mónaco sem sermos residentes oficiais, graças a vários apoios, foi fácil, simples. Contudo, o sentimento de rejeição e de não ter raízes foi mais difícil para o Martin do que para mim.

O Martin sofreu com este sentimento de rejeição, especialmente porque existiam outros, menores, mas difíceis para ele.

Nós pensámos em sair do Mónaco, mas para onde? O Martin estava relutante em desenraízar o Edouard pela segunda vez num período de tempo tão curto e não havia nada melhor à vista. Tudo parecia indicar que nós éramos supostos estar no Mónaco.

Quando o Martin começou a adoecer, nós pensámos outra vez em deixar o Mónaco, mas era muito complicado e mais stressante do que ficar.

Claro que nós olhámos para o nosso relacionamento. Nós olhámos para todos os aspectos da cura, o que o Martin chamou "mudança de família radical", onde todos os membros da família vêem de onde é que vem o stress ao qual a pessoa que está a adoecer está a responder e o que qualquer um de nós pode fazer para libertar a fonte do stress. Todos estão activamente envolvidos na cura. Claro que tudo isto é feito com amor, com amor infinito pela pessoa doente, com o desejo de fazer tudo para o/a ajudar a curar-se.

O dinheiro:

O Martin contou muitas vezes a sua histórias com os impostos nos Estados Unidos, quando deixou de receber a devolução de impostos há 40 anos atrás, não procurou receber e então saiu do sistema.

Durante alguns anos nós quisemos voltar para o sistema e quando os Estados Unidos criaram o programa de reabilitação, o Martin decidiu aproveitar a oportunidade. Isto custou-lhe quase todas as poupanças que ele tinha feito para a sua reforma. Ele passou o cheque às autoridades financeiras dos Estados Unidos em Janeiro de 2014 com muita relutância... Ele queria relaxar, descansar, como iria ele sustentar a sua família?

O Martin cresceu em condições sórdidas e o seu chacra da raíz foi sempre o seu ponto fraco. Ele foi o sustento da sua mãe, em vez de ter sido ao contrário. Ele sabia que ela o amava, ele amava-a, eles tinham uma relação de fusão, mas ela era frágil e certamente não foi percebida como uma fonte de nutrição.

O Martin não se imaginava a ser suportado por uma mulher. Era uma ideia difícil para ele.

Trabalho:

No verão de 2013, o Martin sentiu-se desencorajado, os poucos cursos que ensinou na Itália e na Grécia tinham-no desapontado. Ele disse que as pessoas não o entendiam, que não entendiam a sua mensagem. Ele divertia-se menos a ensinar, ele estava cansado.

Confiança:

Eu não vi o Martin chorar muito em 25 anos. A primeira vez foi num curso, na altura do massacre em Ruanda, ele estava em lágrimas. Ele disse "Como é que um ser humano pode tratar outro ser humano desta maneira?"

A segunda vez, em 2013, durante o "Herói do Ano", um programa que a CNN organiza todos os anos. São apresentadas dezenas de pessoas e são descritas as coisas boas que elas fizeram e é eleita uma delas. Ele disse "Eu sou uma boa pessoa, não sou? Eu estou a fazer bem no planeta, não estou?"

Ele sentia-se mesmo rejeitado e incompreendido durante os últimos três anos. Ele tinha-se tornado muito sensível com isso.

Antes de ele partir, eu disse ao Martin que eu tinha pedido a todos os seus participantes que lhe enviassem um testemunho de amor ou gratidão, que eu imprimia essas mensagens e que ele partiria com elas. Todas estas mensagens seriam misturadas com as suas cinzas.

Eu reuni as centenas de mensagens que ele recebeu, havia quase 200 páginas. Elas estão com ele. Podem encontrá-las nesta secção.

As últimas palavras do Martin foram "Eu estou orgulhoso de mim."

Nós estamos orgulhosos dele.

O Nível Espiritual
O início da nossa vida juntos:

Na nossa primeira semana juntos, numa noite, o Martin disse-me: "Eu sempre tive o sonho que quando conhecesse a minha alma gémea, quando chegasse a altura de eu deixar o planeta, vamos dizer em 20 anos, nós abriremos uma garrafa de champanhe, beberemos ao nosso amor e depois eu adormeço e parto."

20 anos parecia-nos uma eternidade! Eu tinha 33 anos e ele 55. Três anos mais tarde, eu fiz-lhe ver que 20 anos era um tempo curto e que devíamos estender o contracto por 30 anos. Ele riu-se. Quando o Martin partiu, nós tínhamos 19 anos de vida juntos e quase 20 anos de relacionamento (começou em Março de 1995).

...Nós bebemos o champanhe e brindámos ao nosso amor uns dias antes da sua partida.

Depois de ele partir:

Veio uma amiga a um curso comigo em Novembro de 2014, 3 meses depois da partida do Martin.

Ela já não vinha a um curso há 20 anos. Ela falou-me acerca desta conversa que ela tinha tido com o Martin há 25 anos, em que ele lhe disse que ele não celebraria o seu septuagésimo quarto aniversário.

Ele partiu 3 meses antes de fazer 74 anos.

A última peça do puzzle veio de uma pessoa muito inesperada, a minha madrinha que também é minha tia. Nós nunca tínhamos falado profundamente, apesar do amor que temos uma pela outra.

No princípio de 2015, ela disse-me isto:

"Tu vieste para o Mónaco para estares mais próxima dos teus pais, mas não foi por eles, foi por ti. O Martin sabia que ia partir e trouxe-te para perto dos teus pais, a ti e ao Edouard, para ser mais fácil quando chegasse a altura."

Tinham-se juntado todas as peças do puzzle. Tudo fez sentido. Eu vi a orquestração completa.

O Martin sabia que iria partir antes dos seus 74 anos, algures, ele sabia o resto.

Por acaso, também era o momento ideal, por muitas razões práticas.

Ele também fez tudo para tornar a sua partida o mais fácil possível para nós. Talvez o Martin tenha pensado que teria sido mais difícil para o Edouard, aos 13 anos, ouvir o seu pai a dizer "Esta noite decidi partir. Vamos beber para celebrar o nosso amor." E partir deste mundo. Não sei.

Nós tivemos tempo para nos despedirmos, para dizermos palavras de amor uns aos outros. O Martin disse ao Edouard "Vive todos os teus sonhos, meu filho." O Edouard estava incrivelmente presente e centrado, aberto, como se tivesse toda a sabedoria do mundo nele.

O Martin partiu calmamente.

Uma noite, disse-lhe que o Edouard e eu estávamos prontos.

Ele partiu na manhã seguinte às 6:00 h, durante uma linda lua cheia.

Eu vi-o com a mãe dele. Ele tinha uma passadeira vermelha muito comprida estendida em frente dele, um arco brilhante, e de cada lado centenas de pessoas a aplaudi-lo, entre elas participantes dos cursos que eu conhecia e que tinham partido antes dele.

Ele voltou-se para trás para ver como estava o Edouard, ele viu que eu o estava a aconchegar nos meus braços, ele sorriu, eu disse-lhe "Continua, aprecia a festa". E ele deixou-se ser bem-vindo de braços abertos.

Ele voltou para ver o Edouard no dia seguinte, em sonhos. Eles passaram um dia completo, apenas juntos, simplesmente, a fazer nada de especial, a sentir o contacto, o amor.

O Martin está aqui muitas vezes.

No dia de São Valentim de 2015 eu estava triste, eu disse para mim própria que não ia receber um cartão este ano. Decidi limpar a casa porque não estava com cabeça para trabalhar.

Decidi abrir uma caixa cheia de coisas velhas, poemas antigos escritos em adolescente, desenhos antigos, e no meio desta confusão toda, encontrei um cartão de São Valentim, sem data, que o Martin me tinha escrito num ano qualquer, e que eu tinha guardado. Dizia "Meu amor, eu amo-te para sempre."

Ele agora trabalha de modo diferente, de outra maneira. Já no Mónaco, dois amigos nossos astrólogos disseram-lhe enquanto olhavam para a carta astral dele, que o seu trabalho ia mudar, que ia ter outras proporções...

O Martin era um marido e pai excepcional.

Ele continua a ser o meu melhor amigo.

Annick